No passado mês de Agosto tive oportunidade de fazer umas férias diferentes. Juntamente com um grupo de sete pessoas de vários pontos da Ilha, fomos a Moçambique para fazer uma experiência de voluntariado.
Após alguns meses de preparação (desde Janeiro até Julho), em que recebemos apoios de tantas pessoas e entidades, partimos com tantas expectativas e temores, pois era uma realidade diferente a qual não estávamos habituados. Por muito que nos preparássemos, nada suporia que este mês fosse tão rico na minha vida.
Queria sobretudo partilhar convosco a experiência de fé daquele povo simples mas rico em acolhimento e entrega.
A zona do Alto Molócuè, onde fizemos uma parte importante da nossa experiência, é uma vasta área composta por 250 comunidades cristãs. Cada comunidade terá por volta de umas 300 a 500 pessoas. Estas comunidades são assistidas por 5 sacerdotes, que aos fins-de-semana vão visitar estas mesmas comunidades. Por isso cada comunidade poderá ter a visita do sacerdote uma vez por ano, principalmente aquelas mais distantes.
Como se organizam estas comunidades? Sobretudo à volta dos ministérios, onde o catequista tem um papel fundamental no crescimento dessa mesma comunidade. Estes, em coordenação com os missionários, orientam as celebrações da Palavra e as várias funções da comunidade.
Tivemos oportunidade, durante os fins-de-semana de visitar algumas dessas comunidades, testemunhar a sua vitalidade e a forma singular como exprimem a sua fé, através do canto e da dança, que são expressões da sua própria cultura.
Em cada comunidade éramos sempre recebidos com muito entusiasmo, um acolhimento caloroso que nos fazia sentir bem. Entre aquela alegria e entusiasmo não sentíamos as duas horas e meia (média) de celebração.
Aprendi muito com aquelas comunidades vivas de fé.
Em primeiro lugar o canto é essencial, acompanhado pelas palmas e pela dança, envolvendo de uma forma singular e particular toda a assembleia.
Em segundo lugar, o destaque dado à Palavra, com a entrada solene do leccionário, que leva o seu tempo mas prepara a assembleia para um dos momentos mais importantes: a liturgia da Palavra.
Outro aspecto que gostaria de destacar é a partilha que cada qual faz no momento da oração universal, com preces espontâneas. Uns melhor que outros, mas sem vergonha, os que assim desejassem faziam com muita simplicidade a sua prece.
Um último aspecto a referir, diz respeito ao momento da comunhão, sempre seguido do cântico de acção de graças. O agradecimento sempre expresso pela alegria do canto e das palmas.
Para mim como sacerdote foi uma experiência particular e reconfortante participar e testemunhar esta vitalidade das comunidades cristãs.
Levava para Moçambique muitos projectos que partilhei com as crianças e jovens. Venho de lá muito mais rico, contagiado pela simplicidade daquele povo que embora sendo pobre, partilha daquilo que tem com muita generosidade. Mas a riqueza maior é o dom da fé vivida na alegria e no entusiasmo, fazendo de cada celebração um momento especial, um digno acto de Eucaristia, acção de graças.
Pe. Juan Noite, SCJ